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MAR
I 2017
da bateria é composta por células
que armazenam a energia, mas os
restantes 40% são a estrutura de
segurança contra incêndios
e impactos, os sistema de
arrefecimento e de controlo e ainda
as ligações elétricas ao motor, que
são enormes pois têm de aguentar
correntes na ordem dos 600 amperes”,
explicou Paul McNamara. Também
Berthier, da Renault, concorda que
"é importante ser eficiente e poupar
no peso”. Os sistemas elétrico, de
temperatura e ventilação também
afetam a autonomia das baterias:
só o aquecimento pode reduzir
a autonomia em 20%.
ACÚSTICA MENOS
GASTADORA
Mas há outros fatores, indispensáveis
para muitos consumidores, que
também precisam de ser resolvidos
para não afetar a autonomia.
Um deles é o gasto de energia com
o som no habitáculo. A Porsche já
está a trabalhar nos sistemas de
infoentretenimento. Tendo revelado
em 2015 o Mission E, um concept-car
desportivo totalmente elétrico, este
já deverá trazer sistemas áudio de
qualidade superior. É que cerca de
80% dos clientes da Porsche optam
por instalar potentes sistemas de som
Bose, com 10 a 15% dos restantes
a escolher um topo de gama da marca
Burmester. “A nossa próxima grande
tarefa é trabalhar os sistemas de som
de forma a serem mais poupados”,
revelou o engenheiro de som Matthias
Renz. “Um sistema de som com 1.500W
consome energia e reduz a autonomia
de um elétrico. Os nossos mais
recentes tweeters (colunas de sons de
alta-frequência) tem uma película mais
leve e um íman mais forte para uma
maior performance e eficiência.
Os ganhos tangíveis estão já a deixar
marcas: quando o Renault Zoe foi
lançado, em 2012, a sua bateria de
22 kWh oferecia uma autonomia
de 208 km. Esse valor aumentou
recentemente para os 238 km com um
motor e um sistema de controlo mais
eficientes. Mas, no Salão de Paris do
ano passado, a Renault anunciou um
novo motor de 41 kWh para o Zoe,
que elevou a autonomia para os 400
km, quase dobrando o primeiro valor
em apenas quatro anos. Esta bateria
mantém o mesmo tamanho e só pesa
mais 22 quilos.
A Tesla Motors, a primeira marca
a usar baterias de iões de lítio,
mostrou recentemente um novo pack
de bateria de 100 kWh para o Model
S e Model X. A química das células
cilíndricas – a maioria dos fabricantes
usa baterias com células revestidas
a folha – mantém-se inalterada, mas
as baterias acumulam mais energia
com o mesmo espaço. Em resultado
disso a autonomia sobe dos 460 km
para bem acima dos 480.
Os fabricantes confiam que uma maior
autonomia das baterias, associada ao
alargamento da rede de carregamentos
elétricos – existem atualmente 60 mil
pontos públicos de carregamento na
Europa -, assim como a redução do
"AINDA FALTAM ALGUNS ANOS
PARA O ELÉTRICO DOMINAR"
Para o Presidente do ACP Motorsport,
Mário Martins da Silva, o futuro do
automóvel elétrico ainda “vai passar
pelo híbrido, em que coabitam os
motores de combustão e elétrico”.
Isto porque, “ao contrário do que
pode parecer pelas notícias sobre
elétricos, o motor de combustão ainda
vai durar muito tempo". Ou seja, vai
caber aos híbridos, sobretudo Plug-in,
fazer a transição gradual entre os
dois modelos, "não só por causa da
autonomia limitada dos elétricos,
mas também porque não é de um
momento para o outro que se larga
os combustíveis fósseis e toda a
estrutura montada em redor da
extração, refinamento, armazenagem,
transporte e revenda do petróleo”,
explicou. O crescimento da consciência
ambiental por parte do consumidor,
a par de eventuais crises energéticas
causadas pela previsível escassez do
petróleo, são as razões que, na sua
opinião, têm motivado as marcas
a investir nesta tecnologia, “o que
acho muito bem, pois é muito
importante desenvolver alternativas".
Alguns fabricantes de elétricos
já conseguiram superar
a barreira dos 400 km
de autonomia
tempo de carregamento, vai suscitar
uma maior procura de veículos
elétricos por parte do consumidor.
E se tal acontecer, a economia de
escala irá acelerar, reduzindo os custos
das baterias e, por isso, os custos
dos carros elétricos. Para Berthier,
"isso já está a acontecer, já entrámos
no círculo virtuoso da produção de
baterias”, garantiu este responsável da
Renault. Se a Bloomberg noticiou que
os preços das baterias baixaram cerca
de 35% em 2015, ao mesmo tempo as
vendas de veículos elétricos terão
subido cerca de 60%, o que leva aquela
agência de notícias a prever que os
elétricos atinjam a paridade de preço
dos veículos a combustão entre os
anos de 2022 e 2028.
Se aquela análise se provar correta,
os veículos elétricos vão estar numa
posição forte para reconquistar
a liderança de vendas pela primeira
vez no último século.