Revista ACP outubro

AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL OUTUBRO 2025 | 3 Editorial Com Smuts ao volante vamos lá? 1. Nos últimos anos, a visão holística sobre os problemas tornou-se um remédio universal para todos os males. E no que toca à segurança rodoviária, o conceito passou a estar na boca de todos os responsáveis políticos e seus ajudantes. Portugal está sem estratégia nacional para a segurança rodoviária há cinco anos (sem que a anterior, 2015-2020, tenha sido executada a metade)? É preciso uma visão holística, não se pode atacar a sinistralidade com penas mais pesadas. As motos não precisam de inspeção, tal como os automóveis? Nem pensar (mesmo que seja uma inevitabilidade por força da União Europeia), a visão holística resolve tudo. Esse desígnio holístico está algures perdido nas gavetas de algum governante, enquanto continuamos a registar picos de mortalidade nas estradas. As polícias reclamam CARLOS BARBOSA PRESIDENTE DO AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL As polícias reclamam medidas urgentes, a sociedade civil também, mas continua tudo na mesma. A segurança rodoviária não rende votos, mas pode tirá-los 2. Também se aplica aqui a fiscalização aos TVDE. Está à vista de todos, mas desde 2018 que a lei não é mexida de forma estrutural, a bem de todas as partes – empresas, motoristas e consumidores. Se do lado dos profissionais se contam situações inadmissíveis de condutores a dormirem nas bagageiras dos carros, horas sem fim ao volante, falta de conhecimento do Código da Estrada e da língua portuguesa, do lado das autoridades continua sem existir uma fiscalização efetiva a estes veículos. As próprias plataformas digitais e associações do setor pedem medidas adicionais, reconhecendo que só assim se transmite confiança e segurança aos utilizadores. Que é só a base do negócio. • medidas urgentes, a sociedade civil também, mas continua tudo na mesma. A segurança rodoviária não rende votos, mas pode tirá-los. Veja-se a proposta de passar as aulas de condução para metade, transferindo a responsabilidade do ensino para um ‘tutor’. Sim, porque nos Estados Unidos também se faz, tal como a visão estratégica para a segurança rodoviária é replicada do modelo escandinavo. Em ambos os casos, não se conhece até agora mais do que isto. Mas só a intenção é reveladora de que Smuts, o pai do holismo, se transformou numa espécie de farol do código da estrada, das boas práticas rodoviárias e da sociedade em geral. Ao defender que se olhe para o problema como um todo, com inúmeras partes que em conjunto contribuem para que se contemple o mundo na sua globalidade, estamos no fundo a empurrar com a barriga os factos: todos os anos morrem em Portugal mais de 600 pessoas nas estradas. Aqui, os defensores de Smuts permanecem imóveis dentro da sua bolha holística. Ao defender que se olhe para o problema como um todo, com inúmeras partes que em conjunto contribuem para que se contemple o mundo na sua globalidade, estamos no fundo a empurrar com a barriga os factos: todos os anos morrem em Portugal mais de 600 pessoas nas estradas

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