14 | AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL MARÇO 2025 PAULO CUNHA Eurodeputado PPE OPINIÃO A indústria automóvel europeia encontrase no centro de uma transformação sem precedentes, marcada por exigências ambientais, avanços tecnológicos e desafios competitivos vindos de outras partes do mundo. Este setor, que representa mais de 13 milhões de empregos diretos e indiretos em toda a União Europeia (UE), é muito mais do que a produção de veículos: é o motor de um ecossistema diversificado que inclui PMEs, fornecedoras de componentes e indústrias complementares como vidro, têxteis, metalurgia e eletrónica. Em Portugal, a interligação deste ecossistema à indústria automóvel é um fator crucial para a economia, e a sua sustentabilidade depende de uma estratégia da UE, em articulação com os governos. Enquanto eurodeputado e membro do Partido Popular Europeu (PPE), tenho participado nos debates que visam garantir a competitividade da indústria automóvel europeia. Recentemente, o PPE organizou uma cimeira de alto nível reunindo representantes das várias instituições europeias, líderes do setor automóvel e peritos. O objetivo foi claro: elaborar um plano concreto para reforçar a competitividade da indústria automóvel num momento crítico. Entre as medidas delineadas, destacam-se a necessidade de apoiar a inovação tecnológica, remover barreiras regulatórias desnecessárias e implementar infraestruturas que suportem o crescimento sustentável do mercado de veículos elétricos e soluções de mobilidade verde. No seguimento, elaborou-se o documento estratégico "Garantir a Competitividade da Indústria Automóvel Europeia", onde se destacam três áreas fundamentais: (1) apoio à transição verde, (2) uma estratégia que garanta um mercado competitivo e justo, e (3) investimentos em inovação e qualificação de mão-de-obra. Esforços particularmente relevantes para Portugal devido ao impacto direto nas indústrias que fornecem bens e serviços para o setor — muitas delas PMEs. Em Portugal, a indústria automóvel não existe de forma isolada e representa um fator de dinamização de diversas atividades económicas. Do setor têxtil, que fornece materiais para interiores de automóveis, à indústria do vidro, responsável por vidros e superfícies altamente técnicas, passando pela metalomecânica, eletrónica e até pelas energias renováveis, a cadeia de valor automóvel é uma alavanca económica de enorme relevância. Em regiões como o Vale do Ave ou o distrito de Setúbal, estas indústrias dominam o tecido produtivo local e geram milhares de empregos, direta ou indiretamente. Não obstante, estas empresas enfrentam hoje desafios imensos: a pressão para fornecer componentes mais sustentáveis e tecnológicos, a escassez de matériaprima, os custos energéticos elevados e a necessidade de se adaptarem a um mercado global em transformação. Tomemos o exemplo das PMEs que desenvolvem componentes especializados, como bancos, cablagens ou painéis de controlo. A transição para veículos elétricos e, futuramente, veículos autónomos, coloca exigências nunca antes vistas em termos de desenvolvimento tecnológico e de inovação. Estas empresas precisam de modernizar processos de produção, ao mesmo tempo que enfrentam a concorrência de fornecedores asiáticos que operam com custos de produção menores. Este é um dos principais pontos sublinhados pelo PPE no seu documento: são necessários mecanismos financeiros, como fundos de transição, incentivos fiscais e linhas de crédito acessíveis, para garantir que as pequenas empresas possam adaptar-se às novas exigências do mercado sem perder competitividade. Portugal tem uma oportunidade única para se posicionar como um hub inovador na nova era da mobilidade. A crescente adoção de energias renováveis no país, aliada à aposta governamental em clusters industriais, como o Automóvel, pode funcionar como uma base sólida para atrair novos investimentos. Portugal tem uma oportunidade única para se posicionar como um hub inovador na nova era da mobilidade Outro dos aspetos essenciais identificados é o investimento na qualificação da força de trabalho. Portugal, ainda que confrontado com desafios estruturais como a perda de mão-de-obra qualificada para outros mercados europeus, tem demonstrado uma capacidade crescente de formar trabalhadores no setor automóvel e nas indústrias conexas. Face às mudanças tecnológicas, é necessária uma requalificação em larga escala. O avanço dos veículos elétricos implica novas competências na área de design de baterias, software e eletrónica avançada. Estas competências podem ser fomentadas em cooperação entre instituições de ensino, empresas e governos. A hora é de agir – e as empresas portuguesas, como peças essenciais nesta engrenagem, podem estar na linha da frente desta revolução. ● O Ecossistema em Torno da Indústria Automóvel: Um Pilar Estratégico para Portugal e a Europa C M Y CM MY CY CMY K
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