AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL DEZEMBRO 2024 | 19 Mas há momentos em que os dois universos se cruzam, como aquele dia em que Eduardo Ávila se deslocou para o trabalho ao volante de uma ambulância Volkswagen ‘Pão de Forma’ e a estacionou no Hospital da Luz, em Lisboa: “O parque exterior do hospital era só para ambulâncias, mas por vezes, quando eu fazia Urgências, estacionava lá o meu carro O sorriso acompanha o brilho nos olhos destes doutores quando o tema é clássicos e era sempre repreendido pelos seguranças. Achei que a melhor forma de resolver isso era comprar uma ambulância ‘Pão de Forma’, de 1961, que é o meu ano de nascimento. Mandei restaurá-la por completo. No dia em que a fui buscar, a primeira coisa que fiz foi levá-la para o trabalho e estacionei ao lado das outras ambulâncias. Aquilo causou um certo impacto, positivo, mas acabei por não o repetir muitas vezes, porque a carrinha chamava muita gente e tirava-as do seu local de trabalho (risos).” Arte e (muito) engenho Ricardo Brízido, por seu turno, faz o paralelo entre a sensibilidade exigida pela microcirurgia de oftalmologia e as ‘operações’ que, ele próprio, executa na mecânica de todos os seus carros. Foi a avaria de um Overdrive, órgão da transmissão de um Austin-Healey, o ponto de partida para o ofício de mecânico e restaurador.“Os meus amigos aconselhavam-me a mandar o carro para ser reparado em Inglaterra ou Espanha. Assunto de família A ligação visceral de Ricardo Brízido aos automóveis foi influenciada pela carreira (e pela personalidade) do pai, prolífico piloto em Moçambique, África do Sul e na então Rodésia. Já como médico oftalmologista, Ricardo Brízido foi trabalhar para Portimão atrás de outras duas paixões: o windsurf e o voo livre. Um grave acidente de parapente marcou o fim das suas aventuras no ar… e o início de uma arte em terra. “Como restaurador, sou um fundamentalista da originalidade”, argumenta. “A única concessão que fiz foi pintar este Austin-Healey BN1, que devia ter uma só cor, com o vermelho e preto com que o meu pai corria”. Os dias e noites que passa no atelier de mecânica são um prazer, não um trabalho: “Um amigo meu, grande colecionador, disse-me um dia que tenho os clássicos mais caros de Lisboa. Eu perguntei se ele estava a brincar. Ele respondeu, ‘Já viste a quantidade de horas de oftalmologista que os teus carros têm em cima?’”. Coisas que não têm preço. • 1950 Palácio Tarouca A vontade de ter edifício próprio leva o ACP a adquirir o Palácio Tarouca
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