Revista ACP junho

14 | AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL JUNHO 2024 SIM Na concepção de uma ponte com a dimensão da TTT, nenhuma das várias decisões estruturantes a tomar pode ser limitadora, nomeadamente a escolha de um único dos dois modos, rodoviário ou ferroviário, mas sim, quando e em que condições cada um destes deverá entrar em serviço. Neste caso, claramente que o caminho-de-ferro terá prioridade por ser o inicial, por ajustar melhor a oferta face ao previsto tipo de procura, mas isso não se pode traduzir numa liminar e definitiva exclusão do modo rodoviário. E em Portugal há mais de 60 anos tivemos um dos melhores exemplos de Planeamento estratégico quando, na concepção da Ponte 25A então claramente rodoviária, foi decidido deixar tudo preparado para, décadas depois ser facilmente introduzido o corredor ferroviário, o que se veio a concretizar passados mais de 33 anos, em 1999. Assim, o novo modelo de gestão para as 3 travessias do Tejo que entretanto terá de ser negociado com a atual concessionária das duas travessias existentes e com a BRISA, concessionária do designado “Acesso ao novo Aeroporto”, deverá considerar todas as medidas para inclusão do modo rodoviário na TTT, sem qualquer compromisso quanto ao prazo para a respectiva abertura ao tráfego. Simplesmente deixar desde o início, quer a ponte quer os acessos mais imediatos devidamente preparados considerando todos os elementos estruturais e geométricos necessários para facilitar a introdução desse corredor rodoviário quando se verificar a sua necessidade, face a futuras realidades de procura, ambientais e económicas. Este será o ato mais razoável e descomplexado de boa gestão destas novas redes de transportes, porque facilita a integração de modos complementares num importante elemento dessa rede, a TTT, com as melhores soluções de Engenharia, e permite a economia e racionalização dos recursos face às realidades financeiras disponíveis. � NÃO Entram em Lisboa mais 300.000 carros por dia, que congestionam a circulação, prejudicando a economia, e degradam o ambiente e a qualidade de vida na cidade. Por isso, nas circunstâncias actuais, é uma irresponsabilidade agravar este problema com uma componente rodoviária na Terceira Travessia do Tejo (TTT). No entanto também há argumentos relevantes para incluir a componente rodoviária na TTT: aproximaria as zonas do Barreiro, Seixal e Moita da cidade de Lisboa, o que é relevante para o desenvolvimento destas zonas e da cidade de duas margens em volta do Tejo, como preconizado correctamente no Plano de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROTAML). Esta é uma tendência natural, que no passado não se podia materializar devido ao obstáculo que o Teja constituía. Então como compatibilizar estas duas questões antagónicas? Através do controle do estacionamento na cidade de Lisboa. Se as pessoas não tiverem onde deixar os carros, não os trarão para a cidade e a rodovia na TTT deixaria de ser um ónus para o ambiente e a circulação, e passaria a ser uma vantagem para economia. Para este efeito, é preciso uma política selectiva de estacionamento em Lisboa: a cidade deve servir as necessidades dos residentes e da economia (para a cidade não se desertificar), ou seja, das empresas e do acesso dos cidadãos aos serviços públicos (estacionamento temporário). É preciso assumir que, como grande parte da cidade é antiga, não tem capacidade para receber todos trabalhadores das 9 às 17h que hoje acedem a Lisboa de carro. Uma das razões que dificultam a alteração desta situação, é a falta de qualidade dos transportes públicos. Neste contexto a TTT deve ser construída, para já apenas com componente ferroviária, mas de forma a permitir a instalação futura da componente rodoviária. Antes disso deve investir-se na melhoria dos acessos por transporte público ferroviário da periferia ao centro de Lisboa (o que exige um Plano de médio e longo prazo) e controlar e disciplinar o estacionamento em Lisboa. � Tema de Capa JORGE ZÚNIGA SANTO ENG. CIVIL ESPECIALISTA EM TRANSPORTES E VIAS DE COMUNICAÇÃO OE MÁRIO LOPES PROFESSOR UNIVERSITÁRIO OPINIÃO OPINIÃO A ponte Chelas-Barreiro deve ser também rodoviária?

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