10 | AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL MARÇO 2024 beneficia de subsídios ilegais que prejudicam o interesse económico dos nossos produtores europeus”. No setor automóvel europeu trabalham atualmente 14 milhões de pessoas. A Europa não caminha sozinha na reação à presença massiva de elétricos chineses a preços artificialmente competitivos. Também nos Estados Unidos a administração Biden está a ser pressionada, tanto do lado Republicano quanto do lado Democrata. Dependentes da China Mas a verdade é que todo este processo pode fazer ricochete nos produtores europeus, isto pela deslocalização em massa da produção para a China, que já se tornou assim o maior produtor mundial. Ricardo Reis, especialista em macroeconomia, admite consequências para os europeus com produção na China, mas não considera que possam ser os mais afetados: “Os grandes apoios estatais chineses têm ido para as suas marcas locais, como a BYD. São essas que motivaram o inquérito e serão essas as que podem ver impostas sanções sobre a forma de tarifas de importação. No entanto, a partir do momento em que o inquérito é aberto, claro que pode ser alargado e acabar por abranger empresas que também tenham alianças com as empresas europeias”. O crescimento da produção de veículos na China teve início nos anos 80 e 90, quando, sob a liderança da Volkswagen e da Audi, a maior parte das principais empresas automóveis europeias, americanas, japonesas (e mesmo as coreanas) estabeleceram operações de produção de veículos em regime de aliança naquele país. Se inicialmente havia a questão da mão de obra barata a motivar a deslocalização, agora há também a questão comercial, já que o mercado chinês é o maior do mundo automóvel, com 21,7 milhões de automóveis ligeiros vendidos em 2023. “A questão mais importante, e mais difícil, é perceber se tudo isto vem demasiado tarde. A indústria automóvel chinesa está a crescer Concorrência a um ritmo brutal nos últimos 24 meses, e a sua eficiência e produtividade parecem estar bastante acima da dos fabricantes europeus. Quando a investigação acabar e forem introduzidas sanções, este fosso pode já ser tão grande que não fazem diferença”, receia Ricardo Reis. As reações dos fabricantes Há pelo menos um fabricante europeu que está contra as medidas da Comissão Europeia. A Mercedes-Benz, através do seu diretorexecutivo, afirmou claramente que se opõe à imposição de tarifas aos elétricos chineses. Em entrevista ao Financial Times, Ola Källenius diz: “não aumentem as tarifas (…) sou contra essa medida e acho que devíamos reduzir as que estão em vigor”. As atuais tarifas impostas aos veículos chineses são de 10%, mas no caso de um veículo exportado para a China, a tarifa a pagar é de 15%. Em sentido oposto tem estado a Stellantis, “A questão mais importante, e mais difícil, é perceber se tudo isto vem demasiado tarde. A indústria automóvel chinesa está a crescer a um ritmo brutal e a sua eficiência e produtividade parecem estar bastante acima da dos fabricentes europeus” Ricardo Reis, Professor de Economia da London School of Economics
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