Revista ACP setembro

AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL SETEMBRO 2023 | 5 venha a ser ainda pior do que o que se pensa, numa altura em que o barril de crude Brent ultrapassou os 95 dólares, para valor recorde dos últimos 10 meses. Enquanto se projetam previsões e medidas do Banco Central Europeu, pode-se olhar para o passado e ver o impacto que as descidas acentuadas dos preços do petróleo, do gás e do carvão desde os seus picos de 2022 contribuíram para a retoma do crescimento e a diminuição da inflação no primeiro semestre de 2023. Por cá, o Governo diz estar atento à situação, mas até agora as medidas para mitigar a escalada do preço dos combustíveis têm sido residuais e em nada alentam a economia. Os excedentes de tesouraria e o encaixe de milhares de milhões de euros de impostos em cascata deviam ser aproveitados também para atenuar esta chama. Como dizia há dias o Presidente da República,“we are fado, we are cozido à portuguesa”, mas será que também we are oportunidades perdidas? • Na capa desta Revista ACP queremos desmistificar o panorama da evolução automóvel e o pensamento único. O futuro vai ser mesmo todo elétrico? Não, tal como a realidade não é apenas a preto e branco. A tecnologia avança e bem a ritmo acelerado em busca de elétricos com mais autonomia, de combustíveis sustentáveis que permitem a mesma utilização dos atuais motores a combustão, enquanto se avaliam outras energias como o hidrogénio. Mais do que nunca, é tempo de fazer regressar o incentivo ao abate de viaturas em fim de vida, tirá-las da estrada, contribuir efetivamente para a sustentabilidade ambiental e para a segurança rodoviária. Está nas mãos do Governo não desperdiçar novamente a oportunidade. 2. Na mesma linha de oportunidade, aguarda-se a nova Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR). As linhas gerais já conhecidas seguem uma ‘visão holística’ inspirada na Suécia. A abordagem da sinistralidade e como a levar ao zero em medidas concretas é o que está por saber. Mas há desde logo um ponto frágil que pode e deve ser corrigido desde já: só com políticas integradas e de ação conjunta se conseguem resultados estruturais. Por exemplo, na educação. A nova ENSR, nas suas linhas gerais e pelo que nos foi dado a conhecer, prevê uma atualização de conteúdos nas escolas, sem, contudo, ir além do que já existe. E as escolas de condução? O seu ensino não devia ser também integrado nesta ENSR, de forma que os conteúdos do ensino oficial obrigatório façam sentido de forma CARLOS BARBOSA PRESIDENTE DO AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL transversal, desde a infância até chegar ao volante de um automóvel? Até ver, parece ser, neste capítulo, mais uma oportunidade perdida. 3. Vamos ter de nos habituar ao petróleo caro. Assim, sem rodeios, escrevia o “Figaro”, adiantando já que no próximo ano vão ser batidos novos recordes de preços. Os combustíveis derivados do petróleo têm disparado sem mostras de abrandamento devido às reduções no fornecimento decretadas pelos países que são maiores produtores de crude e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) já assinalou o risco acrescido de novo aumento da inflação, o que levará a que se prolongue a atual situação de taxas de juro muito elevadas, em valores recorde. As previsões da OCDE apontam ainda que, neste cenário de inflação alta, com alívio gradual, a economia começa a dar sinais de abrandamento, como na Alemanha e em Portugal. Ainda que nada seja dado como certo, é muito provável, segundo esta organização, que a nova vaga de inflação na energia e nos combustíveis derivados do petróleo Mais do que nunca é tempo de fazer regressar o incentivo ao abate de viaturas em fim de vida, tirá-las da estrada e contribuir efetivamente para a sustentabilidade ambiental e para a segurança rodoviária Os excedentes de tesouraria e o encaixe de milhares de milhões de euros de impostos em cascata deviam ser aproveitados para mitigar a escalada do preço dos combustíveis

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