Revista ACP junho

60 | AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL JUNHO 2023 CATARINA TELES MARTINS Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia Consultório Médico ENVIE AS SUAS DÚVIDAS PARA A REVISTA [email protected] Ar Condicionado – Usar sem condicionar... Desde o seu aparecimento que o Homem tenta contrariar as adversidades climatéricas, em especial em relação ao frio e ao calor, com vista à sua sobrevivência e busca de conforto Viver com o conforto do ar condicionado é-nos, atualmente, instintivo. Seja em edifícios – desde os hospitais, centros comerciais até às nossas casas – seja nos meios de transporte – aviões, comboios e, claro está, nos nossos automóveis – assumimos que a existência do ar condicionado é, por origem, garantida. Otimizar as condições térmicas onde nos movemos é uma mais-valia, mas não podemos esquecer-nos de que a utilização do ar condicionado não é isenta de riscos. Mesmo cumprindo criteriosamente as regras de manutenção do equipamento – é mesmo condição essencial! – o controlo térmico artificial dos espaços fechados pode trazer problemas sérios de saúde. Quando estamos várias horas em ambientes climatizados por aparelhos de ar condicionado é possível que comecemos a notar maior dificuldade de concentração, maior sonolência ou até a pulsação cardíaca aumentada e palpitações. Tal deve-se à desidratação do ar envolvente, resultado da remoção da água do ambiente pelo condensador do ar condicionado. Respirar este ar mais frio e seco faz com que as nossas mucosas se desidratem progressivamente e a perda continuada de água, ao longo das horas, possa levar a uma desidratação severa (sobretudo em pessoas que necessitam de medicação diurética). Todos os nossos órgãos precisam de um determinado nível de água para funcionar em pleno, desde logo o cérebro e o coração. Da secura das mucosas e da sua maior fragilidade resultam também os sintomas respiratórios (tosse, irritação na garganta, rouquidão), oculares (lacrimejo, sensação de corpo estranho, ardor) e cutâneos (pele seca, prurido). Do mesmo modo, as pessoas com doenças respiratórias como a asma e a bronquite crónica, podem aperceber-se do aumento da tosse, de pieira e de falta de ar. E por último, as infeções pelo ar condicionado – mito ou realidade? Absolutamente verdade! E não apenas a Legionella que, normalmente, associamos aos filtros contaminados dos sistemas de ar condicionado, mas também as conjuntivites, faringites, sinusites e pneumonias são infeções possíveis. Uma vez mais, a desidratação das mucosas dos olhos, nariz e garganta fragiliza e “paralisa” as nossas defesas locais, promovendo as infeções. E se a qualidade do ar não for absolutamente assegurada com filtros de boa qualidade (e regularmente substituídos) e com o arejamento periódico dos espaços, mais provável é a contaminação dos equipamentos e do meio envolvente. Posto isto: utilizemos com moderação uma das maiores invenções do nosso tempo, mas recordemo-nos de que o ar condicionado só é verdadeiro privilégio se nos der qualidade de vida sem condicionar a nossa saúde. •

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