Revista ACP Novembro

AUTOMÓVEL CLUB DE PORTUGAL NOVEMBRO 2022 | 9 Portugal deve assegurar o abastecimento de energia ao mais baixo preço possível, para se garantir a competitividade das empresas e o conforto das famílias. As interligações energéticas entre os países da União Europeia são um instrumento para esse objetivo, e a recente Cimeira entre a França, a Espanha e Portugal veio dar grande visibilidade a este tema. Dado que a situação da eletricidade é diferente da do gás natural, vejamos que conclusões se tiram sobre as interligações energéticas prioritárias: 1 . GÁS NATURAL Como Portugal não produz gás natural, a prioridade é a segurança do abastecimento e a utilização otimizada das infraestruturas logísticas. Dispondo em Sines de um Terminal para gás liquefeito, e estando ligado por dois gasodutos a Espanha, que está por sua vez ligada à Argélia e a França, a situação de Portugal é confortável em termos de logística. 2. ELETRICIDADE Em relação à eletricidade, a situação de Portugal é mais complexa. Desde logo porque produz eletricidade a partir de várias fontes: gás natural e diversas fontes renováveis. Nos últimos 20 anos a aposta do governo português privilegiou duas potencias renováveis intermitentes, solar e eólica, o que muito afeta a estabilidade do sistema elétrico e está na origem da Dívida Tarifária que ascende ainda hoje a 2 mil milhões de euros, e que está às costas dos consumidores. Assim, para se assegurar a estabilidade do fornecimento de eletricidade e evitar apagões, é necessário dispor de backups de “potências firmes”, ou seja de potências baseadas em fontes armazenáveis que se podem utilizar sempre que seja necessário. Prioridade é o reforço das interligações elétricas entre a Península Ibérica e França O problema é que temos instalados 7.000 MW de potências intermitentes, protegidas pelo regime contratual das FIT-Feed In Tari s que permite expulsar do mercado a concorrência, quando o consumo em vazio é de apenas 4.000 MW. Pelo que as potências de apoio têm um funcionamento intermitente e muito caro. O encerramento prematuro das centrais a carvão em 2021 veio agravar a dependência de Portugal relativamente ao gás natural e às importações diretas de eletricidade de Espanha. Estas importações de Espanha, que no mês de outubro de 2022 atingiram 35% de todo o consumo, são indispensáveis para se evitarem apagões, pelo que o reforço das interligações elétricas entre a Península Ibérica e França se torna urgente por motivos económicos e de segurança de abastecimento. 3. PRIORIDADES PARA PORTUGAL Em termos de gás natural, o único investimento agora anunciado é um troço de gasoduto entre Celorico da Beira e Zamora. Como este novo troço não traz benefícios para Portugal, é essencial confirmar que o respetivo custo será suportado por fundos europeus, para não agravar ainda mais a tarifa. Para Portugal, a prioridade é o reforço das interligações elétricas entre a Península Ibérica e França. O ponto 3 do comunicado da recente Cimeira França/Espanha/Portugal prevê a aceleração da nova conexão da Biscaia, mas é urgente conhecer a data prevista para a respetiva conclusão. • CLEMENTE PEDRO NUNES Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico OPINIÃO Interligações energéticas europeias: as prioridades estratégicas de Portugal para imprevistos, dizem os especialistas. Recorde-se que as cheias na Nigéria em meados de outubro quase comprometeram o fornecimento de gás a Portugal, segundo revelou então a Galp. "A segurança do abastecimento de gás da Europa enfrenta um risco sem precedentes, à medida que a Rússia intensifica a utilização do gás natural como arma política", advertiu a Agência Internacional de Energia. Abastecimento de gás na Europa em risco sem precedentes

RkJQdWJsaXNoZXIy ODAwNzE=