Haverá ainda uma época para a tosse? Amor et tussis non celantur (o amor e a tosse não se escondem). A tosse é algo que já todos tivemos, já todos ouvimos, já todos sentimos como pode ser incómoda e difícil de controlar... Todavia, apesar de toda a familiaridade com esta inquilina peitoral, não é assim tão simples explicarmos aos outros o tipo de tosse que nos acomete. Na rúbrica de hoje proponho que conheçamos um pouco mais o que é a tosse e a forma como devemos lidar com ela. A tosse é um reflexo protetor do sistema respiratório, com o qual podemos expulsar partículas ou agentes agressores para as nossas vias aéreas. Resulta da contração vigorosa dos músculos torácicos, criando uma pressão elevada que facilita a expulsão desses agentes. A presença de tosse significa que existe algum problema de saúde, geralmente (mas não só) a nível do aparelho respiratório. Por esse motivo, este sintoma deve deixar-nos alerta – especialmente se for prolongado e acompanhado por outras queixas – devendo motivar-nos a procurar ajuda médica para um diagnóstico e tratamento atempados. Há um sem número de designações correntes para os vários tipos de tosse: “Tosse de cão” ou tosse rouca (uma tosse profunda e cavada); tosse com pieira ou com gatinhos (um som semelhante ao miar de um gato ou ao piar de um pássaro); tosse seca (por vezes difícil de controlar, com acessos quase ininterruptos); tosse com expetoração de várias colorações, etc. A cada uma destas designações corresponde uma determinada causa, seja ela uma infeção, uma alergia, um efeito secundário de um medicamento, uma doença crónica (respiratória, cardíaca, gástrica e muitas outras) a que devemos estar atentos, cuidar e tratar sem, todavia, entrarmos em excessiva preocupação. Há um sem número de designações correntes para os vários tipos de tosse Estamos habituados, ao longo dos anos a ouvir várias alusões a tratamentos para a tosse, desde chás, produtos mentolados, infusões, rebuçados com fórmulas centenárias e dropes aromáticos com publicidade televisiva. Pois bem, ainda que de Consultório Médico sabor agradável e, geralmente sem consequências graves, estes produtos não constituem soluções por si e a tosse deve ser investigada pelos profissionais de saúde. A tosse deve ser investigada pelos profissionais de saúde Atualmente podemos considerar que houve uma realidade anterior e posterior à Covid para quase todos os aspetos da Humanidade. Em relação à tosse, verifica-se o mesmo: já não há, propriamente uma “época da tosse” (a primavera e o outono para as tosses alérgicas, as estações frias para as tosses pela gripe e constipações, etc). Há, sim, uma realidade diferente em relação aos quadros de tosse existentes antes da pandemia e os existentes no pós-pandemia, junto de pessoas que contraíram o vírus. O SARS-COV2 fragilizou, de forma mais ou menos percetível – o tempo revelará o quanto – o aparelho respiratório de quem contraiu a doença e tal é demonstrado pela elevada procura de consultas para diagnóstico e tratamento da tosse, no último ano. Seja qual for a origem da sua tosse, esteja atento e, sobretudo, considere voltar voluntariamente à máscara. O vírus ainda anda por aí! Até ao próximo número, com boa saúde! • CATARINA TELES MARTINS Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia
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