Consultório Médico Está (quase) tudo nas nossas mãos! Há pouco mais de um ano desesperávamos por uma vacina. Um inimigo invisível exigia-nos um aliado visionário: a ciência tinha de descobrir uma vacina para nos livrar da Covid-19. Pois bem, em dezembro de 2020, a vacina chegou nalmente a Portugal. Chegou com escolta militar, transmissão televisiva em prime-time e honras ministeriais. Chegou primeiro para uns, depois para outros e, presentemente, para quase todos. Todos menos aqueles que ainda, agora não, a querem. É curioso recuar um ano e recordarmos a ansiedade e o atropelo em busca das vacinas e agora, parece ser preciso correr atrás dos que fogem delas. Casos mediáticos e abundante falsa informação foram minando a conança na ciência e fazendo crescer muitas dúvidas. É, pois, tempo para alguns esclarecimentos. 1. Porque é que a vacina não impede a infeção pelo SARS-COV2? Porque para tal seria necessário que induzisse a produção de um anticorpo neutralizante, capaz de destruir todos os vírus em circulação, impedindo a sua proliferação e propagação. O exemplo mais próximo é o da vacina do sarampo, que confere uma proteção duradoura contra uma infeção grave (todos nos lembramos dos tristes episódios de morte pela doença nos não vacinados, em 2019). Ainda assim, embora raras vezes se consigam produzir esses anticorpos, eles não são essenciais para que a vacina nos conra proteção: ela será ecaz para evitar, na maior parte das vezes, a doença grave, o internamento, a ventilação... Vacinas de 2ª geração vão produzir mais e melhores anticorpos contra a Covid-19 2. Porque temos de nos revacinar? Não só porque se trata de um vírus mutável, mas também porque a nossa imunidade – por anticorpos e outras vias – vai decaindo com o tempo. É necessário estimular o sistema imunitário periodicamente para mantermos atualizados os nossos mecanismos de proteção. Quanto maior a nossa proteção vacinal, menor a probabilidade de nos infetarmos (e de infetarmos os outros) e, sobretudo, menor será a gravidade da doença que possamos contrair, especialmente em variantes hiper-infecciosas, como a Omicron. 3. É seguro vacinar as crianças? Muito seguro e por demais importante! Os trabalhos e testes de investigação de segurança das vacinas para a COVID-19, na população pediátrica, têm sido cienticamente robustos: as complicações da vacina nas crianças são quase inexistentes e, quando ocorrem, raramente irreversíveis. A doença grave pelo SARS-COV2, ainda que pouco frequente nas crianças, pode ela sim causar sequelas sérias e permanentes. Em caso de infeção, as crianças vacinadas terão menor carga viral, logo doença mais ligeira e menor probabilidade de infetar os outros. 4. Como vão ser as vacinas de 2ª geração? Estão já em desenvolvimento e incluem adjuvantes, ou seja, componentes que possibilitam uma produção rápida de mais e melhores anticorpos, muito mais ecazes tanto para as atuais como para as futuras variantes do SARS-COV2. Anticorpos mais letais para o vírus signicam doença muito menos sintomática nos infetados, e muito menor facilidade de transmissão da infeção. Surgirão, esperemos que em breve, as vacinas combinadas: uma só imunização que confere proteção contra a gripe e a Covid-19, por exemplo. Portanto, Senhoras e Senhores, está (quase) tudo nas nossas mãos: as vacinas por que tanto ansiámos aqui estão, à nossa disposição, protegem-nos de males maiores e são ponto fundamental na recuperação da normalidade nas nossas vidas. Até ao próximo número, com votos de boa saúde! Terei todo o gosto em responder às suas questões através do email: [email protected] CATARINA TELES MARTINS Médica Assistente Hospital Graduada de Pneumologia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte | Docente convidada da Faculdade de Medicina de Lisboa
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