Revista ACP março

O lítio e o veículo elétrico – o caso português Face à importância que tem hoje em dia para o nosso país o cluster automóvel (componentes e fabricação /montagem de veículos), parece-nos essencial a defesa e reforço desse cluster num momento em que a indústria automóvel está a sofrer uma mudança estrutural do veículo de combustão interna (VCI) para o veículo elétrico (VE). Temos um conjunto de empresas que produzem componentes metálicos e de plástico, que continuarão a ser essenciais para os VE, sejam eles a baterias (BVE), vulgo carro elétrico, ou a pilhas de combustivel alimentadas a hidrogénio (FCVE), vulgo carro a hidrogénio. O BVE tem menos componentes e até menos complexidade que o VCI, mas as baterias são uma componente chave Ora as baterias viajam mal e por isso, para defender as nossas empresas montadoras/produtoras de veículos, conviria, tal como os espanhóis estão a fazer, atrair uma fábrica de baterias. Acontece que a tecnologia que está a ser largamente utilizada nesta transição é a das baterias de ião-lítio e Portugal tem as maiores reservas de lítio da Europa, a qual está perigosamente dependente da China na cadeia de valor destas baterias. Então conviria dinamizar os projetos de exploração mineira que se perspectivam e, a partir do concentrado de espumodena existente nas minas em Portugal, virmos a ter uma refinaria para o converter em hidróxido de lítio que é depois usado nas células das baterias de ião-lítio. E conviria atrair através do IDE um fabricante de baterias para termos completa essa cadeia de valor e defender o nosso cluster automóvel na passagem para a mobilidade eléctrica, formando-se em Portugal um mais completo cluster da mobilidade. A GALP, em associação com a NORTHVOLT, empresa nórdica produtora de baterias, propõe-se na sua transição energética investir num complexo industrial com refinaria e fábrica de baterias. Se não aproveitarmos as reservas de lítio que temos em Portugal, o país não terá argumentos para desenvolver aqui toda a cadeia de valor desde a extração do lítio até à fabrica de baterias e como somos um país fisicamente periférico em relação ao centro da Europa, estarão ameaçadas as nossas unidades de produção/montagem de veículos na transição para o BVE por não terem perto uma fábrica de baterias, componente que, como referido, viaja mal devido ao peso. O aproveitamento mineiro das nossas reservas de lítio, completado por um projeto industrial que complete a cadeia de valor é assim de óbvio interesse nacional Acontece que, como acontece normalmente com as explorações mineiras, tal actividade será feita em regiões de baixa densidade em regressão económica, sendo a actividade mineira uma das únicas oportunidades para o desenvolvimento sócio-económico dessas regiões. Naturalmente que esta exploração do lítio no nosso país deverá ser feita no mais absoluto respeito pelos mais elevados padrões ambientais, utilizando as mais modernas tecnologias disponíveis, e com a obvia partilha de benefícios da exploração com as populações envolvidas. Se assim acontecer, ganham todos, o país e as regiões envolvidas, com esta oportunidade de explorarmos o lítio em Portugal, integrando a cadeia de valor ligada à passagem para o veículo elétrico. • LUÍS MIRA AMARAL Engenheiro Elétrotécnico (IST) e Economista (MSc NOVASBE) Tesla instalou uma "gigafactory" na China, um dos principais países no setor mundial da produção de baterias 10

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