Consultório Médico Cuidados a ter no Natal Agora que nos enchíamos de orgulho por ver Portugal no topo das estatísticas de vacinação contra a COVID-19 e que o alívio das medidas de contenção nos fazia imaginar a época natalícia com a família toda reunida, regressam as notícias que apontam para uma escalada dos casos de infeção pelo SARS-COV2. Um regresso ao passado?! E a vacinação?... Na verdade, não se trata de uma repetição do passado: a vacinação contra a COVID-19 foi fundamental e trouxe-nos a mais-valia de nos proteger, de um modo geral, das formas graves da doença. Não nos esqueçamos de que, há um ano, o número médio diário de casos era de 6500, os internamentos em UCI ascendiam aos 400 e os óbitos eram uns alarmantes 100 casos por dia. Hoje estamos, felizmente, numa realidade diferente, mais controlada e, sobretudo, mais informada. Todavia, como tem vindo a ser sistematicamente explicado pelas Autoridades de Saúde, a vacina confere-nos uma proteção importante e que salvou já muitas vidas, mas não nos impede de sermos infetados por este vírus nem de o transmitir aos outros. Para além deste facto, devemos ter em atenção que algumas pessoas – seja pela idade avançada, seja por comorbilidades várias ou por imunodepressão grave – podem não car tão protegidas pela vacinação como os mais jovens e os mais saudáveis. Se não mantivermos os hábitos, cuidados e medidas de proteção individual a que já nos habituámos, – tal como não usar a máscara, ou esquecer a importância do distanciamento social – estaremos a promover o 49 reaparecimento e o aumento de casos, com as consequências nefastas que já conhecemos do passado. Que não restem dúvidas: se não nos vacinarmos, a proteção é nenhuma. Sem hábitos de proteção individual, o risco é todo. Sem hábitos de proteção individual, o risco é todo Este ano chegamos à época natalícia ainda com mais vontade do que habitualmente, muito pela má memória dos constrangimentos por que passámos no Natal passado – que ainda assim foram insucientes, como pudemos, infelizmente, vericar. É necessário fazer, este ano, o Natal e o Réveillon do bom senso: Na moderação no número de familiares e amigos à mesa - seja em jantares de Natal de empresas, seja nos momentos de consoada - a seis pessoas no máximo. Bom senso em evitar os ajuntamentos nas superfícies comerciais, aumentando a concentração de pessoas e, com esta, o risco de contágio. Cumpramos a nossa obrigação de completar a vacinação que nos foi recomendada, incluindo a terceira dose. Protejamos os mais velhos e os mais doentes de situações de risco, evitando o seu contacto com pessoas não vacinadas. As vacinas e medicamentos da próxima geração, felizmente já em fase de teste, certamente trarão a possibilidade de maior conforto e segurança na confraternização entre todos. Mas neste Natal, ainda não. Neste Natal, continua tudo na nossa mão. Por favor coloque as suas questões para
[email protected] Fui convocado para tomar a vacina COVID e a da Gripe simultaneamente. Só vou aceitar tomar a da COVID e deixar para depois a da gripe. Quantos dias me aconselha a esperar para tomar a da gripe depois de tomada a da Covid? Messias Sá Pinto sócio nº 13176 A vacina da gripe pode ser uma vacina inativada (apenas com fragmentos virais não ativos) ou viva atenuada (com vírus enfraquecidos). Quanto às vacinas para a COVID-19 existem duas formas aprovadas: as de mRNA (material genético que “explica” às nossas células como produzir uma “imitação” de um fragmento do vírus e que nos permite produzir anticorpos contra ele) - caso das vacinas da Pfizer e da Moderna- e as de vetores virais, em que um vírus banal e inofensivo transporta essa mesma informação até às nossas células, também para produzirem anticorpos - vacinas da AstraZeneca e da Jansen, por exemplo. Quando nos vacinamos, o nosso corpo é estimulado a produzir anticorpos e outras defesas. Os anticorpos são produzidos pelos linfócitos B, um tipo de células do sistema imunitário. Mas há outros linfócitos, os T, que não produzem anticorpos, mas têm outros mecanismos de destruir os vírus. Estes linfócitos T podem permanecer muitos anos e são protetores. Com duas vacinas em simultâneo colocamos o nosso sistema imunitário em ação e a maioria das pessoas consegue uma resposta imunológica eficaz para ambos os vírus. Podemos ter queixas (febre, dores musculares), mas é uma estratégia muito segura e eficaz. Se preferirmos distanciar as tomas, temos de esperar que o sistema imunitário se “recarregue” para produzir novamente, e em larga escala, novas defesas contra novos vírus. Este tempo rondará, em média, os 15 dias. Seja qual for a opção, o importante é não falhar a ambas as vacinas. CATARINA TELES MARTINS Médica Assistente Hospital Graduada de Pneumologia, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte | Docente convidada da Faculdade de Medicina de Lisboa