Revista ACP Abril
29 o meu projeto, me punha alguma preocupação em cima, pois tinha cado ciente de que os imprevistos acontecem, apesar da minha plani cação minuciosa da viagem (nem um garrafão de água, nem uma segunda correia de ventoinha), nada me garantia que não pudessem surgir de novo. Assim, logo cedo voltei à estrada, com a preocupação constante sobre como iria ser a travessia do tal rio sobre o qual ainda não havia ponte, embora as obras estivessem em curso. Não consigo recordar mais nada sobre o percurso, as povoações ou cidades pelas quais passei, nem sequer os postos de combustível e as refeições. E assim fui “navegando” a interminável baixa do Cassange, preenchida pelas extensas plantações de algodão que, no seu máximo esplendor, simulavam as imensas planícies nevadas de outras paragens. tribunal marcial! Foi com grande alívio que tirei do carro a grade de cervejas que distribui pelos meus anjos salvadores. Mini atravessa o rio Luange, por Daniel Seabra. Pôr do Sol à chegada ao Quartel de Dala, 1972. ponte sobre o rio Chicunde, uns 35 km depois outra ponte sobre o rio Cuilo, seguindo-se uma terceira, sobre o rio Luange, e eis que, ao aproximar-me do tal rio perto de Mona-Quimbumdo, embrenhado nos meus pensamentos, subitamente avisto, ao fundo de uma descida, o que deveria ser o ansiado rio Luele. Mas seria mesmo o Luele? Reduzido a um riacho lamacento, pois estávamos na estação seca, o que vejo eu? Não há ponte… Vejo ao longe o que me pareceram umas formiguinhas a mexer dum lado para o outro. Uf ! Que alívio! Alguns troncos alinhados sobre o fundo do riacho serviam de ponte e, o melhor de tudo, alguns homens trabalhavam na construção da futura ponte. Com a ajuda que prontamente me deram, conseguimos passar o Mini praticamente “ao colo”, uma vez que, ao tentar colocá-lo pelos seus próprios meios sobre a improvisada ponte, imediatamente escorregou e assentou a “barriga” sobre os troncos, e dali só saiu com a ajuda dos operários. Aí, respirei fundo e uma alegria imensa preencheu-me totalmente. Estava en m a salvo do Entusiasmado com a aventura, admirado pela minha ousadia, inebriado pelo calor da terra e pela beleza de África que z minha Mátria desde a primeira vez que lá pisei o solo, em 1968. Consultei o mapa e lá estavam Caculama, Xá-Muteba, Capenda Camulemba, Xinge e Cacolo, uma Plantação de algodão, Baixa do Cas sange. Parei na estação de combustível mais próxima para descomprimir e atestar os depósitos e arranquei para a etapa nal, rumo a Dala, chegando mesmo a tempo de evitar um processo disciplinar por deserção. O sono dormido nessa noite cou na minha memória como um dos mais breves, mas, sem dúvida, o mais tranquilo e reparador que alguma vez dormi. Parei para descomprimir, atestei os depósitos e arranquei para etapa final
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