Revista ACP Abril

28 Sem recursos para remediar a avaria, olho em volta e não vejo mais nada senão uma longa estrada deserta, atravessando campos sem –m. Restava-me esperar que passasse algum carro que pudesse ajudar. Enquanto isso, o tempo ia passando e pensava: “Estou tramado! Se não conseguir chegar a Dala a tempo sou considerado desertor!”. Ao –m de um tempo que me pareceu uma eternidade, começo a ouvir um barulho que parecia aproximar-se, e avisto uma pick-up que acabou por parar à minha frente. O condutor saiu e ofereceu-me ajuda. Naquelas paragens, a solidariedade era espantosa! Analisou a situação e disse: “foi a correia da ventoinha que partiu, provocando o sobreaquecimento do motor, aumentando a pressão no circuito de refrigeração, fez soltar o tubo que liga o motor ao radiador, esvaziando-o totalmente. Ainda bem que parou logo, pois poderia gripar o motor e aí não poderia continuar a sua viagem. Portanto, não é grave. Podia ter sido pior!”. Repôs o tubo no lugar e –xou-o muito bem com –ta adesiva que tinha na carrinha. Naquelas paragens, a solidariedade era espantosa! Deu-me um garrafão de 5 litros de água que trazia consigo para as emergências e recomendou-me que conduzisse devagar até à próxima localidade, que –cava a poucos quilómetros,e onde havia uma o–cina que talvez me pudesse resolver o problema. E assim foi. Com o coração nas mãos e desligando e ligando o motor por várias vezes, para que não aquecesse demasiado. Pouco depois, no Km 218, lá estava o Dondo, outrora um grande entreposto comercial. Logo à entrada da povoação, como me havia dito o meu Anjo da Guarda, encontrei a o–cina onde, por sorte, havia uma correia que servia à medida. Eu cheio de pressa, procurando recuperar o tempo perdido e o mecânico, meticuloso e cheio de vagares, arranjou tudo na perfeição e o problema –cou resolvido, permitindo-me continuar a viagem, agora rumo a Malange, onde iria dormir e assim cumprir a primeira etapa desta grande aventura. Impunha-se não perder tempo, o Mini devorava agora os quilómetros sem parar. Salazar (Ndalatando), Lucala, Cacuso, foram terras por onde passei sem sequer reparar, na ânsia de recuperar o tempo perdido, recordando-as apenas ao vê-las agora no mapa. Entretanto anoiteceu e, chegado a Malange, procurei uma pensão onde dormir. Naqueles tempos, apesar de tudo, a vida em Angola era fácil. Estava exausto. Foi um dia comprido. Muitas emoções fortes, susto grande, grande dia! A primeira etapa que deveria ter sido de, pelo menos, 600 km, tinha –cado reduzida a 480 km. Não podia haver mais imprevistos, tinha perdido cerca de seis horas Não só não podia perder tempo, como não podia haver mais imprevistos. Tinha perdido cerca de seis horas o que, não comprometendo Estrada em Angola. Embondeiros pontuavam a paisagem.

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