Revista ACP Abril

27 Não encontrei ninguém em Luanda que me soubesse dizer ao certo se já havia ponte ou não. Hesitei um pouco, mas, como a vontade era grande, decidi arriscar. Ao chegar lá, logo se veria. Levantei-me então bem cedo e cheio de energia e, movido pelas expectativas que tinha nesta viagem, sozinho e contente, –z-me à estrada. A estrada era longa e monótona atravessando a savana e não tinha movimento. A paisagem, salpicada aqui e ali pelos simpáticos embondeiros, era também, de vez em quando, marcada pela presença dos gigantes metálicos de braços abertos que mostravam a sua força, os postes de alta tensão, transportando a energia gerada pela barragem de Cambambe, que –cava perto. O tempo estava magní–co, e o motor do carro no seu ronronar regular, correspondia às minhas expectativas, tranquilizando-me. Sabia que o caminho era longo e que o cansaço iria surgir, mas não estava preocupado. Apesar da guerra, que durava há mais de 10 anos, a estrada estava aberta e era segura, não sendo previsíveis problemas de maior. Subitamente, teria percorrido cerca de 200 kms, acende-se uma luz vermelha no painel de instrumentos que imperiosamente me obrigou a parar. Saí do carro e apercebo-me que o capot deixava passar um fumo branco. Abro o compartimento do motor, e solta-se uma grande nuvem de fumo e penso: “o motor aqueceu, o radiador rebentou, e agora…?" O motor aqueceu, o radiador rebentou, e agora...? O Mini Cooper portou-se à altura da façanha. prévia de condução nas estradas da grande e misteriosa África, sem qualquer ajuda que não fosse um mapa das estradas de Angola de 1968, e sabendo que a dois terços do percurso teria de atravessar um rio cuja ponte ainda estava em construção, a cerca de 1.280 km, tudo tinha que ser bem planeado para correr bem e para poder chegar no tempo previsto ao quartel evitando correr o risco de ser considerado desertor o que, em estado de guerra, me traria complicações graves, se não gravíssimas. Como era um trajecto pouco usado para turismo, ninguém me garantia que o tal rio, (um pequeno rio perto de Mona-Quimbumdo) seria transposto. Tinha de chegar a tempo ao quartel em Dala, sob pena de poder ser considerado desertor Daniel Seabra e o seu Mini Coooper, com o qual atravessou Angola em guerra.

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