Revista ACP Abril
26 Atravessar a guerra num Mini Cooper Em Dala, leste de Angola, no quartel do Batalhão de Caçadores 3856, em 1972, o tempo passava devagar e o tédio apoderava-se de nós. Cansado, resolvi pedir uns dias de descanso no Luso (Luena) tendo obtido uma licença de cinco dias. Ofereci-me para levar alguns feridos que deveriam ser transferidos do Hospital Militar Daniel Seabra, sócio do ACP, relata como em 1972 atravessou sozinho Angola em plena luta armada no seu 1º carro, numa viagem cheia de peripécias ao longo de 1.200 km e sem qualquer experiência do Luso para o Hospital Militar Principal em Luanda (HML), e assim, lá fui no “Noratlas” com cinco feridos em maca, que deveria vigiar e acompanhar até ao hospital. Entregues os feridos, dirigi-me rapidamente ao restaurante mais próximo, que me pareceu bom, para satisfazer a minha ânsia por boa comida, tal era a monotonia da ementa do quartel. Tinha pela frente quatro dias para me apresentar de novo no batalhão em Dala e não havia tempo a perder. Revisitei alguns amigos e namoriscando amigas minhas, desfrutei do acolhimento fraterno dos meus primos. Momentos fantásticos, inesquecíveis! Vinha decidido a levar o Mini Cooper que tinha em Luanda para Dala e preparei “minuciosamente” a viagem de regresso. Toda esta aventura me parece, hoje, extraordinária! Tudo isto me parece, hoje, extraordinário. Como é possível que em Angola, em pleno estado de guerra, um simples Alferes Miliciano Médico, decida em Luanda seguir sozinho, sem qualquer guia de marcha, para Dala, a 1.170 km de distância, em plena Zona Militar Leste, onde a guerra era intensa e era aconselhada a circulação apenas e só com escolta militar? Era pura ousadia! Inacreditável. Como ia só, sem qualquer experiência
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