Revista ACP Fevereiro
gasto com atividades lúdicas. Tirar os olhos da estrada por dois segundos enquanto conduz multiplica o risco de colisão por 20. Se preferir um exemplo concreto, eis um caso recorrente: em média, são precisos 5 segundos para ler ou escrever uma mensagem, o que equivale a atravessar um campo de futebol de uma ponta à outra a conduzir de olhos fechados, a uma velocidade de 90 km/h. “Proibir os telemóveis e permitir estes ecrãs nos automóveis é um bocado contrassenso”, advoga a neurologista Élia Baeta. “Às vezes admira-me que as pessoas não tenham mais acidentes, mas, por outro lado, há acidentes que se explicam melhor quanto às suas prováveis causas, pois estes ecrãs são uma interferência, no sentido neurológico do termo, do acto da condução. Se conduzir já é um acto ‘multitasking’ (multitarefa), o condutor, para dar atenção às informações que surgem no ecrã, tem de dividir ainda mais a sua atenção. E quanto mais difícil se torna conduzir, maior é o perigo”, explica esta especialista. Não se trata só de uma questão de idades, pois “se é possível treinar a atenção dividida, também é verdade que o uso da atenção dividida pode estar limitada em qualquer faixa etária”, resume. "Proibir telemóveis e permitir estes ecrãs é um bocado contrassenso" Até cerca de 2010 os carros com ecrãs eram raros. Rera-se, por curiosidade, que o primeiro carro a trazer painéis digitais foi o Aston Martin Lagonda em 1976, modelo britânico que, a preços atuais, custava mais de 200 mil euros e que, apesar de muito controverso pela sua estética e mal afamado pelos problemas tecnológicos (começou a deitar fumo pelo painel na apresentação à imprensa), registou bom nível de aceitação, sobretudo entre o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho, já que uma das línguas que o Lagonda “falava” era o árabe. A partir de 2010 a disseminação dos ecrãs tornou-se imparável. Inicialmente funcionavam ainda com teclas e botões, mas sensivelmente a partir 2015 democratizaram-se os “touchscreen” (ecrãs de toque) e poucos anos mais tarde começaram a surgir os comandos por voz (ainda circunscritos ao segmento médio-alto), em que uma inteligência articial descodica os desejos verbalizados pelo condutor para funções como climatização ou escolha de rotas. Hoje em dia qualquer utilitário a partir dos 15 mil euros já poderá trazer um ecrã, ainda que com funcionalidades um pouco mais limitadas. Os ecrãs nos modelos da Tesla podem chegar às 17 polegadas (43 cm na diagonal) entre 1993 e 1996, não tem dúvidas sobre “a importância dos ecrãs” na vida dos automobilistas e na forma como estes vão ainda mais ocupar um lugar central no papel da condução. Até o telemóvel, objeto que é alvo de enormes preocupações por parte das autoridades rodoviárias – como se pode ver pelo muito recente aumento em Portugal das multas por usar o telemóvel ao volante –, acaba por estar integralmente disponível para os automobilistas... no ecrã do seu carro. Isto signica que as redes sociais e laborais também cam disponíveis no carro. A distração está a tornar-se num dos maiores riscos de segurança nas estradas O problema é que a distração está a transformar-se num dos maiores riscos de segurança nas estradas. Estima-se que até 25% dos acidentes rodoviários são causados pela distração e que 25 a 30% do tempo total de condução é hoje em dia 16
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