Revista ACP Fevereiro

Na última década, as novas tecnologias têm invadido a indústria automóvel permitindo-nos manter as mesmas funcionalidades que temos no local de trabalho ou em casa. Se, antes, os monitores eram pequenos, com informação básica referente ao carro, hoje são verdadeiros monitores de tablet, acedendo à informação do carro, mas permitindo aceder ao mundo exterior e, inclusive, sendo ainda a extensão do telemóvel. Os ecrãs dos carros são verdadeiros monitores de tablets, que permitem aceder ao mundo exterior E como se comportam os nossos olhos neste novo contexto? Os nossos olhos estão preparados para focar o infinito, direitos, e usando a visão periférica para melhorar a estereopsia tão necessária na condução. Ao utilizarmos o monitor do nosso veículo, temos duas opções: ou usamos o “canto do olho” e, neste caso, a nossa capacidade irá pelo conhecimento prévio mais do que pela leitura da informação, ou desviamos o olhar da nossa função de condução e focamos o monitor, mas neste caso vamos contrariar a natureza ou posição primária, e focar não o infinito mas a curta distância. Os olhos não se irão manter direitos mas em convergência (os olhos entortam simetricamente para dentro), e tudo isto em esforço. Não esquecer que há ainda o movimento de focagem longe- -perto-longe, situação que em diversas circunstâncias pode levar frações de EUGÉNIO LEITE Médico oftalmologista, cirurgião As novas tecnologias na indústria automóvel e a visão 1. O Ford T trazia apenas um amperímetro no painel de instrumentos. 2. Primeiro ecrã digital da história foi do controverso Aston Martin Lagonda, de 1976. 3. Moderno ecrã de um protótipo. 1. 2. 3. quantas os engenheiros das marcas automóveis conseguem idealizar. Habituado a tomar decisões ao milésimo de segundo ao longo sua carreira, Pedro Lamy considera que “os ecrãs são uma mais-valia para os condutores, pois trazem muita informação que permite tomar as melhores decisões, como por exemplo escolher as melhores rotas com o GPS ou mesmo ser avisado com antecedência para eventuais obstáculos no decorrer da viagem”. O piloto ACP, que foi o primeiro português a conseguir pontuar na Fórmula 1, categoria que disputou segundo ou segundos a focar o novo alvo, com os inerentes riscos de perda momentânea do controlo da situação de condução. Temos também que considerar a qualidade do monitor em causa, que nos veículos mais recentes tem melhor qualidade mas cujo comprimento de onda não é igual ao do olho. Logo, exige deste um fenómeno de adaptação para que a leitura seja com definição e rápida, o que resulta em mais esforço para os olhos. A legislação em vigor proíbe o uso telemóvel na condução e como nos atuais veículos a informação do telemóvel é transposta para o monitor, torna-se numa contradição. No monitor do automóvel temos todo um conjunto de informação sobre o veículo, configurações, navegação, música, playlists e rádio, a que se acresce toda a informação proveniente do telemóvel, em que apenas uma pequeníssima parte não é possível ver ou executar com o veículo em movimento. Concluindo: falando apenas no esforço para a visão da condução e uso simultâneo do monitor, podemos afirmar que para além do esforço visual de transição longe-perto-longe, da convergência e da adaptação ao monitor, há a diminuição de capacidades visuais resultantes do cansaço ou da idade, e dos quais podem resultar o cansaço visual ou astenopia, o desfocar de imagem, a perda de estereopsia, profundidade ou campo visual, para além da sua relação com a capacidade de resposta às situações de condução. 15

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