Revista ACP Junho

15 abastecimentos (otimizando circuitos e cadeias de distribuição), assegurar compras sem necessidade de uma deslocação motorizada (comércio de proximidade e compras online), potenciar o ensino à distância (sobretudo para os níveis secundário e superior) e permitir (pelo menos para os estratos sociais com maior literacia e acesso a computadores pessoais) um maior acompanhamento de crianças e adolescentes nas suas atividades escolares. Perante estes factos, é possível antecipar a possibilidade de mudanças positivas ao nível da mobilidade urbana, pelo menos enquanto a memória (e o medo) deste tempo de pandemia se mantiver. Com efeito, ao nível de alguns serviços e níveis de ensino, no futuro próximo podemos assistir a uma melhor articulação e utilização destes modos de funcionamento à distância, com as suas congéneres presenciais. Isto não só permitirá uma melhor gestão dos tempos familiares e do achatamento das horas de ponta, como uma reorganização do próprio funcionamento das empresas e dos serviços públicos (por ex. funcionando por turnos), assim como uma racionalização da logística urbana muito para além do que se tem conseguido nas grandes superfícies e redes de distribuição. É possível promover algumas mudanças positivas, no curto e médio prazos Por outro lado, a redescoberta do comércio de proximidade, da importância das relações de vizinhança e dos espaços verdes de bairro, criaram as condições necessárias para o desenvolvimento de políticas urbanas que promovam um maior uso desses serviços e equipamentos, evitando assim a necessidade de deslocações motorizadas para lhes aceder. Racionalizar serviços públicos, ensino e logística urbana vai achatar os picos de tráfego Do mesmo modo, as formas de fornecimento de bens e serviços à população idosa e carenciada, que foram postas em prática, poderão servir de base à organização de sistemas de logística urbana mais eficientes e que permitam o uso de modos de transporte não poluentes. Trata-se de replicar, a uma maior escala, os modelos utilizados, envolvendo fornecedores de bens e serviços mobilizáveis para tipos de distribuição mais personalizados. Porém, isto exige criar condições para a sua viabilidade económica, nomeadamente quanto à disponibilização de espaços logísticos e à organização do sistema. É aqui que os municípios poderão ter um papel essencial. Todavia, há outros sinais e perceções que apontam para um funcionamento em sentido contrário, isto é, irão contribuir para uma maior utilização do transporte individual. Desde logo o temor de partilhar veículos, base dos sistemas de ”car sharing” (onde se depositava muita esperança) levará a uma menor adesão a este tipo de alternativa de mobilidade, bem como a um maior receio de utilizar as plataformas de partilha de boleias. Por outro lado, ao maior espaçamento exigido entre os passageiros nos transportes coletivos, teria de corresponder uma maior frequência da oferta, o que é de todo impossível numa altura em que, para fazer face ao aumento da procura registada após a introdução dos novos passes, se eliminaram lugares sentados para aumentar a capacidade dos veículos. Se nada se fizer, serão aspetos que irão conduzir a um acréscimo do uso do transporte individual, até porque a significativa redução do preço dos combustíveis irá torná-lo ainda mais atrativo. Em relação ao transporte coletivo (TC), só um claro aumento da oferta poderia atenuar o medo da Criar alternativas para o ensino à distância pode reduzir o trânsito de veículo ligeiros em 20%

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