Revista ACP - Junho
8 JUN I 2016 com outras três portageiras e quinze dias depois foram admitidas mais 15. O buzinão de 1994, é uma má memória: “custou-me ver pessoas que conhecia de todos os dias a dificultarem-nos o trabalho nesse dia, entregavam-nos notas de conto para pagar portagem e depois era um problema para conseguirmos trocos para todos ou então, davam-nos moedas muito pequeninas que tínhamos de contar tudo aquilo e às vezes ainda faltava dinheiro” lembra a ex-funcionária da ponte que se reformou em 1995. As memórias que Rosa Lopes guarda dos tempos da ponte são mais antigas, recuam até 1962 quando esta começou a ser construída. Foi também nesse ano que entrou para a obra como carpinteiro. Mais tarde, com dois ou três colegas, passou para a estrutura como pintor e ainda hoje conserva alguns instrumentos de trabalho como um capacete e uma tricha que diz ser única no mundo “não há outra igual porque só um maluco é que guarda estas coisas”, garante. Em 1998 também passou a fiscal e assim se manteve até 2005 quando se reformou. Uma vida dedicada à ponte que afirma conhecer tão bem como as palmas das mãos. Explica o intrigante aparecimento de muitos gatos na ponte “eles vêm no motor dos carros e depois saem na ponte quando os condutores estão parados, cheguei a apanhar muitos os outros acabavam no rio”. E recorda ainda “as muitas tentativas de suicídio na ponte, que aconteciam naquele tempo mas que nem todas eram divulgadas”. REALIZAÇÃO DE UM SONHO Era desta forma que o País via “a maior e mais bela ponte do Velho Continente”, como a realização de um sonho, cuja inauguração foi seguida em direto na televisão por 100 milhões de europeus. José Canto Moniz, o engenheiro que dirigiu os trabalhos de construção da ponte também não fugiu à regra e num artigo que escreveu para a Revista ACP, na edição de maio/junho de 1966, chamou-se “a realização de um sonho que nasceu há um século”. Era tempo dos automobilistas se habituarem à presença da obra e sobretudo “não se enganarem na entrada para a ponte porque depois não podem voltar para trás, terão que transpor o rio e pagar portagem para lá e para cá para depois virem tomar o acesso que deveriam ter tomado da primeira vez ” avisava Fernando Pessa na televisão, terminando com uma das suas frases célebres: “Quando atravessarem a ponte façam o que fazem quando casam, pensem bem antes de atravessar”. O bloqueio de 1974, logo a seguir à revolução, que culminou com a retirada da palavra Salazar que deu nome à ponte desde a sua inauguração e o buzinão de 1994 contra o aumento das portagens, foram os dois grandes conflitos que marcaram a história da ponte que em 1999 passou a contar com circulação ferroviária. Atualmente são cerca de 174 os comboios que diariamente (dias úteis) fazem a travessia da ponte, em ambos os sentidos, demorando sete minutos e nove, na ligação entre as estações das duas margens, Pragal e Campolide. Quanto ao tráfego médio diário na ponte, os números de 2015 apontam para 140.000 veículos. MINI FOI ESTRELA NA PONTE Para esta reportagem recriámos a travessia do primeiro carro na ponte. Como o veículo original já não existe, fizémo-lo com um Morris Mini 850, também verde, igual ao que protagonizou esse inesquecível momento ligado à história da ponte. Para esse efeito recorremos ao serviço de Assistência ACP, também especializado neste tipo de situações, além do transporte de veículos avariados e acidentados. Inauguração da Ponte Salazar
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