Revista ACP - Junho
da ponte mas já com sentimentos diferentes dos que tive no dia da inauguração, talvez agora tivesse sentido mais um misto de nostalgia e orgulho”. O carro já não era o mesmo porque o vendeu no início da década de 90, mas com a ajuda do ACP Clássicos foi possível conseguir um modelo igual ao que tinha na época e da mesma cor para repetir a aventura meio século depois. PORTAGENS COM FITA MÉTRICA Consta-se que no dia em que a ponte foi inaugurada terão por lá passado 50 mil veículos transportando cerca de 200 mil pessoas. Álvaro Fernandes que era o portageiro nº 2, confirma os momentos de delírio vividos nessa altura em que “a confusão era tanta que só começámos a cobrar portagem lá para as três ou quatro da madrugada”. E conta como foi parar à ponte: “Antes trabalhava nos ferry boats e como já tinha experiência no transporte de veículos nos barcos, foi fácil ser admitido como portageiro”. Como ele, houve outros colegas seus que se mudaram para a ponte porque na época temia-se que a esta significasse a morte dos cacilheiros. No primeiro dia do seu novo emprego, Álvaro Fernades que até tinha convite para assistir à inauguração da ponte preferiu ficar a ajudar os carros da comitiva oficial e só a seguir ao almoço é que ocupou uma das cinco cabines de portagem iniciais. E pelas portagens ficou até 1971 passando depois a fiscal da ponte até à reforma em 1995. São muitas as histórias que se lembra desses tempos em que estar oito horas por dia dentro de uma cabine de portagem não era fácil porque “eram muito diferentes do que são hoje, não tinham porta, entrava chuva, frio, calor...”. Recorda também o que faziam alguns automobilistas para pagarem menos portagem “encurtando os pára-choques para reduzir em alguns 7 JUN I 2016 centímetros o comprimento do carro” e com isso tentarem poupar alguns escudos. Mas os portageiros não se deixavam enganar, já sabiam muito bem o comprimento dos carros de cada marca através de um processo curioso: “antes de pagar mandávamos os automobilistas encostar e com uma fita métrica medíamos o comprimento dos carros para saber a que classe pertenciam e quanto tinham que pagar de portagem, e quando passavam distraídos sem parar avisávamos com um apito igual a um que guardo como recordação”, afirma o ex-portageiro. Foi no ano em que Álvaro Fernandes deixou as Medíamos o comprimento dos carros para saber quanto tinham de pagar Álvaro Fernandes, ex-portageiro portagens passando a fiscal da ponte, que começaram a chegar as primeiras portageiras como Irene Tomás. “Lembro-me que ia de férias com a família mas respondi a um anúncio, prestei provas e fiquei. Tive que desistir das férias para não perder o emprego”. Ainda se lembra como foi a prova de admissão: “Fiz uma redação e resolvi um problema de regra de três simples”. Entregou a prova e foi logo admitida. Entrou a 1 de julho de 1971 juntamente Obras de construção da Ponte Salazar
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